Sempre gostei muito do período da Semana Santa. E desde cedo, aprendi com minha família a respeitar e viver com fé esse tempo. O que aprendi na infância, mantenho até hoje, e todos os anos vejo que minha família age da mesma forma durante essa abençoada semana. O mundo pode ficar moderno como for, manteremos sempre nossas tradições e aqui, no Poço Cercado, a Semana Santa será sempre especial e sagrada.
Minha avó nos ensinou a fazer intenções através do jejum. Antes do Alzheimer, ela começava a jejuar na Quarta-feira de Treva. Eram três dias de jejum e intenções, como a mesma costumava dizer. Na Quinta-feira Santa, o almoço é servido às 11 horas e o jantar às 18 horas. Já na Sexta-feira Santa, que também chamamos de Sexta-feira Grande, almoçamos ao meio-dia e jantamos mais cedo, às 17 horas, para as bênçãos, como dizia minha avó. Aliás, recordo-me muito bem, ouvi-la dizer: " Vou preparar logo o jantar, que hoje é cedo, devido as bênçãos." Acho que ela se referia a bênção do Papa, do Vaticano para o mundo, e isso incluía o Poço Cercado.
Outra tradição da minha família, é a troca de alimentos, durante a Semana Santa. Nossos vizinhos de cerca não entendem, pois meus pais e meus avós trouxeram esse costume do São Diogo. E mesmo tendo passado muitos anos, eles ainda acham estranho a nossa" troca de jejum."
Também recebemos a visita dos caboclos, que vêm à nossa propriedade, nos divertir e pedir "esmolas". Minha avó sempre reserva uns cocos para eles, que saem satisfeitos.
Na Quinta-feira Santa, costumo ir com meus pais e minhas irmãs ao Sítio São Diogo (situado no município de Vieirópolis, região de Sousa). A gente costuma ir na quinta, pois na Sexta-feira da Paixão não saímos de casa, já que é um dia de muita oração e fé, além do jejum. Indo ao São Diogo, percebo como vivemos a Semana Santa, no Poço Cercado, aqui, até o sol fica diferente nesse período, ao contrário do sítio dos meus familiares, que as pessoas agem normalmente como se estivessem apenas diante de um feriado.
Aqui, na nossa propriedade, a Semana Santa é e sempre será, um tempo de oração, jejum e reflexão, um tempo de união familiar e pensamento voltado para o sofrimento e ressurreição de Jesus Cristo, salvador do mundo.
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